Enquanto muitos artistas icônicos da música brasileira celebram seus 80 anos, como Caetano, Gil, Paulinho da Viola e Milton, que receberam ampla cobertura da imprensa, a história de Wanderley Cardoso, um verdadeiro ídolo da jovem guarda, parece ter sido esquecida. Ele completou 80 anos em 10 de março, mas seu aniversário passou despercebido na grande imprensa. É uma pena, pois Wanderley foi um dos grandes nomes do rock brasileiro nos anos 1960.
O maior sucesso de Wanderley, "Bom Rapaz", permaneceu 19 semanas entre os 15 compactos mais vendidos entre 1966 e 1968, conforme mostrou o pesquisador Marcelo Garson e sua tese de doutorado sobre a jovem guarda.
Com o apoio das gravadoras e das rádios, ele lançou uma série de sucessos, incluindo "Preste Atenção", "Caminhada", "Baby Eu Te Amo", "Fale Baixinho", "Vem Ficar Comigo", "Minha Namorada", "Te Esperarei", "Tarde Demais", "O Pic-Nic", "Minhas Lágrimas", "Amor e Ternura", "Doce de Coco" e, claro, "Bom Rapaz".
Wanderley era tão influente que até Roberto Carlos se dobrou a ele. Segundo o biógrafo Paulo Cesar de Araújo, um ainda pouco conhecido Roberto Carlos enfrentava dificuldades para atrair convidados para seu programa na TV Record, o Jovem Guarda, que estreou em 1965. Roberto fez um pacto: Wanderley participaria do programa em troca de uma canção composta por Roberto. Assim nasceu a balada "Promessa", que se tornou um dos grandes sucessos de Wanderley em 1966.
Como aconteceu com muitos artistas da jovem guarda, a carreira de Wanderley começou a declinar na transição para os anos 1970, em parte devido à substituição das rádios AM pelas FM. Aquela geração, que havia conquistado os corações apaixonados nos anos 1960, rapidamente se tornou "velha". Mas a influência da jovem guarda é inegável e permanece viva, mesmo que de forma subterrânea na música brasileira. Artistas do brega e da música sertaneja continuam a representar a estética que Wanderley Cardoso defendia em seus áureos tempos.
O Brasil não é um país de memória muito duradoura. O silêncio sobre Wanderley pode ser dimensionado com artistas do presente. É como se daqui a 50 anos venhamos a esquecer quem foi Luan Santana ou Anitta. Pena não termos uma biografia ou documentário sobre Wanderley Cardoso disponível para que possamos dimensionar corretamente sua trajetória. A escrita de sua vida ajudaria a iluminar a história da música verdadeiramente popular brasileira.