Ao dizer numa entrevista após a posse que o Brasil precisaria mais dos Estados Unidos do que o contrário, Donald Trump deu um claro recado à diplomacia não só de Brasília, mas também de outros países da América Latina. A fala do republicano mostra uma tentativa de reafirmar o papel dos EUA como nação mais poderosa do mundo, num momento em potências como a China e blocos econômicos como o Brics assumem cada vez mais protagonismo internacional.
Contudo, mesmo que historicamente a influência dos EUA na relação bilateral com o Brasil seja inegável, os dados atuais mostram que essa assimetria tem sido cada vez menos gritante. Economicamente, por exemplo, a balança comercial entre os dois países manteve um equilíbrio nos últimos anos, e o principal parceiro é a China, com o os EUA em segundo.
Em 2024, as exportações brasileiras para a terra de Donald Trump somaram 40,3 bilhões de dólares (R$ 243 bilhões), de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). No movimento contrário, o volume foi bem similar, com as importações americanas no Brasil atingindo 40,5 bilhões bilhões de dólares (R$ 244,2 bilhões), diferença de apenas R$ 1,53 bilhão favorável aos EUA.
“A América Latina sempre foi um pátio dos Estados Unidos. É claroque a dependência financeira e política ainda é bastante assimétrica, mas já foi maior. O Brasil não é um país pequeno, internacionalmente temos relevância. Historicamente, os EUA já reconheceram o papel da liderança brasileira na América Latina”, acrescenta Carolina Pedroso (do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do Estado de São Paulo - Unifesp), que vê na declaração do presidente Trump mais um aceno ao eleitorado ressentido pela queda no padrão de vida americano do que uma verdade absoluta.
Uma das promessas de campanha dele, a de taxas de importações, pode até mesmo ser um tiro no pé e causar aumento de preços dentro dos EUA, já que o país também depende de produtos do exterior, como no caso do aço brasileiro.
PAPEL DO BRICS
Na mesma entrevista em que subestimou a relação bilateral com o Brasil, Trump teceu críticas ao Brics. Uma das discussões no Brics, cujos países somam 46% da população mundial, é uma alternativa ao dólar para as transações comerciais. Na prática, o Brics representa um arranjo alternativo à hegemonia que os Estados Unidos construíram principalmente a partir da Segunda Guerra. Com a dianteira tomada pela China, segunda maior economia do mundo, há a ameaça de que a influência americana seja substituída.