Além do que divulgaram diversos órgãos de comunicação, a respeito da forte chuva que atingiu Cuiabá em 8 de abril, deixando a avenida Tenente Coronel Duarte, popularmente conhecida como Prainha, completamente alagada, é a evidência da complexidade das obras do BRT (Bus Rapid Transit, ônibus de trânsito rápido, em português), e o risco iminente do atraso na conclusão das obras.
Um aspecto crucial não apontado no noticiário da mídia estadual, trata-se de que o eventual atraso na conclusão da obra pode inviabilizar o projeto do governador Mauro Mendes, que pretende disputar a eleição para o Senado em 2026, tendo em vista o desgaste causado pelos transtornos no trânsito, transporte de passageiros, e prejuízos para o comércio e empresas em geral.
ENTENDA OS PROBLEMAS
Para que se compreenda melhor a magnitude dos problemas, em Cuiabá e Várzea Grande circula numerosa frota de 716.860 veículos (Detran Net; dados processados em 1º/12/2024), que congestiona o trânsito. Na linha intermunicipal, que liga Cuiabá à Várzea Grande, trafegam 82 ônibus coletivos urbanos, enquanto na capital uma frota de 321. Somando, diariamente o transporte coletivo de ambas as cidades conduz 230 mil passageiros, que sentem na carne os efeitos negativos do trânsito congestionado.
efeitos negativos do trânsito congestionado. Sobre o córrego da Prainha o canteiro central não foi construído prevendo obras do BRT, que exige a construção de pista de concreto apropriada, dotada de estrutura para suportar além do peso dos veículos, o transporte da carga de passageiros. A drenagem tem mais de 40 anos, e além de desgastada já não suporta o volume das águas, em particular quando atingindo pelo volume fluvial das chuvas, e os ônibus elétricos do BRT não circulam em pistas alagadas.
Por outro lado, considerando a hipótese em que inundações venham a impossibilitar o BRT de alimentar os diferentes terminais do modal, de modo a permitir que os ônibus convencionais realizem o transporte para o interior dos bairros das diferentes regiões da Grande Cuiabá, tal hipótese representaria total caos urbano, que paralisaria por completo o funcionamento da cidade.
RASGAR A PRAÍNHA
Antes da chuva torrencial ocorrida em 8 de abril, a Prefeitura de Cuiabá tinha acabado de limpar o córrego utilizando robôs e após o serviço mostrou vídeo. Embora o prefeito tenha tentado minimizar o efeito da forte chuva apontando que as inundações envolvem questões de educação ambiental, porque o povo deixa lixo no chão, a realidade demonstrou de forma cabal que o problema mais grave decorre da vazão de água ser insuficiente. Como admitiu o próprio prefeito, “teria que rasgar tudo ali (no córrego da Prainha) e fazer nova instalação de drenagem”. Opinião essa, ressalte-se, merecedora de respeito, uma vez que prefeito Abílio Brunini é arquiteto, portanto não se trata de um leigo no assunto.
O doutor em Engenharia de Trânsito, Luiz Miguel de Miranda, analisa que nos trechos das avenidas Fernando Correia e Prainha existem mais dificuldades do que na Avenida do CPA e Várzea Grande, o que deve trazer problemas complexos para a conclusão das obras, análise que somada à avaliação do prefeito, opiniões que sinalizam para a perspectiva de atraso na conclusão da obra do BRT.
Na contramão, e sem uma fundamentação técnica plausível, o governador Mauro Mendes veio à público para afirmar: “trabalhamos para apresentar, no projeto do BRT, uma solução definitiva. Ali próximo do Camelô, naquele ponto onde acontece aquele grande alagamento. Nós trazemos uma solução definitiva para aquele caos, que seria uma obrigação municipal, mas nós vamos trazer isso para as obras do BRT, resolvendo definitivamente o problema”.
Objetivando corrigir os alagamentos da Avenida da Prainha, a empresa Águas Cuiabá, concessionária do serviço de águas e esgoto, realizará obras nas redes coletoras de 16 bairros da região central, com ações ao longo das 11 sub-bacias que compõem a bacia da Prainha. Também são imprescindíveis obras de drenagem e reparos para coleta de esgoto sanitário no córrego da Prainha, desde o bairro do Porto até a região central, incluindo o Centro Norte e Sul, Centro Histórico, bairros do Baú, Bandeirantes e Avenida Miguel Sutil, imediações do Araés.
Afora a conclusão do trecho da Prainha até a Ponte do Rio Cuiabá, ainda cabe acrescentar as obras ligando a estação do Morro da Luz ao final da Fernando Correia, região do Coxipó.